As quatro palavras que me fizeram nĂŁo com tanto medo de nascer
mulher preocupada grĂĄvida
Em um trecho de suas memórias, Kate Fridkis conta como ela começou a aceitar o trabalho.
Ăs vezes, eu toco o dedo do pĂ© e sou tipo, oh deus, isso realmente doeu, e aposto que uma contração Ă© vinte vezes maior. Ou talvez cinquenta vezes isso. Esperar. Eu poderia calcular quanto pior do que uma contração iria realmente doer? Um milhĂŁo de vezes, provavelmente. Sim, um milhĂŁo. Isso parece certo. Eu definitivamente nĂŁo posso fazer isso.
Eu realmente quero focar no bebĂȘ. Mas o nascimento Ă© tĂŁo perturbador. EstĂĄ apenas aparecendo lĂĄ, no final da gravidez, como este enorme Monte Doom com o olho de fogo de Sauron passando rapidamente de um lado para o outro. Eu definitivamente sou Frodo em minha histĂłria de nascimento, com os olhos arregalados e aterrorizados.
Ă possĂvel que eu esteja gerando muita coisa na minha cabeça? "Minha mĂŁe fez isso antes de mim, e minha avĂł e sua mĂŁe e sua avĂł" Ă© um dos mantras no lençol que minha doula me deu, que eu deveria praticar todas as noites, mas que negligenciei porque realmente, a televisĂŁo nĂŁo Ă© tĂŁo meditativa, de certa forma?
Espero nĂŁo entrar em trabalho de parto quando estou de mau humor. Espero estar me sentindo muito positivo naquele momento. Estou preocupado com o meu humor ter um grande impacto na qualidade do meu trabalho. Seria coxo ter um trabalho terrĂvel sĂł porque eu estava irritada no inĂcio, ou agonizando com o quĂŁo flĂĄcidos meus braços ficaram. VocĂȘ nĂŁo pode se sentir como uma deusa-mĂŁe da fertilidade quando estĂĄ se preocupando com seus braços flĂĄcidos. E Ă© definitivamente melhor, atĂ© onde eu sei, sentir-se como uma deusa-mĂŁe da fertilidade enquanto dĂĄ Ă luz.
"Estou preocupada por nĂŁo me sentir suficientemente empoderada", confiei com relutĂąncia em minha parteira, jĂĄ que ela parecia ser a Ășnica a quem eu devia uma explicação preventiva - vocĂȘ sabe, por todo o vĂŽmito e cocĂŽ que provavelmente farei nela. durante o parto.
Para minha surpresa, ela sorriu e disse: "VocĂȘ nĂŁo precisa ter poder. VocĂȘ realmente nĂŁo precisa ter uma experiĂȘncia de nascimento". VocĂȘ pode simplesmente ter um bebĂȘ. Esse Ă© o ponto. "
"Eu posso?"
"Na verdade", ela disse, "vocĂȘ vai. NĂŁo importa o que, se vocĂȘ estĂĄ com medo ou feliz ou qualquer outra coisa, vocĂȘ vai ter um bebĂȘ."
"Eu acho que Ă© verdade."
Ela assentiu. "Ă verdade." E ela saberia.
"Nascimento", ela acrescentou, "Ă© apenas uma ponte".
"E se eu nunca mais for o mesmo?" Eu disse com uma voz tĂmida que mal reconheci. Eu nĂŁo tinha certeza do que queria dizer. Minhas coxas, eu acho. A pele debaixo do meu umbigo. TambĂ©m meu cĂ©rebro, meus objetivos, meu potencial ontolĂłgico.
"VocĂȘ nĂŁo vai estar", ela disse, sem sequer parar para pensar nisso. "VocĂȘ nunca mais serĂĄ o mesmo."
"Oh" NĂłs olhamos um para o outro. Seu olhar era atĂ© mesmo gentil, como se ela tivesse se acostumado a quebrar este tipo de notĂcia aterrorizante para as mulheres em uma base regular. Houve um longo silĂȘncio e meu bebĂȘ me chutou violentamente nas costelas e bateu na cabeça do meu colo do Ăștero. Eu estremeci quando faĂscas de agonia queimaram brevemente atravĂ©s de mim.
Antes disso, meu colo do Ăștero era apenas uma espĂ©cie de palavra grosseira, algo largamente inĂștil, sem importĂąncia, como uma vesĂcula biliar. Recentemente, meu colo do Ăștero tornou-se a fonte de uma dor particular e horrĂvel. Tornou-se o portal atravĂ©s do qual meu bebĂȘ vai entrar na luz. Meu colo do Ăștero provavelmente nunca serĂĄ o mesmo. Nunca serei o mesmo. Agora sou uma mulher totalmente de posse de um colo do Ăștero essencial e funcional. Eu sou agora uma mulher que vai nascer um bebĂȘ. Cujo corpo e mente serĂŁo mudados para sempre. Mesmo que eu nem me sinta velho o suficiente. Mesmo que eu nĂŁo tenha certeza de estar perto de estar pronta para ser mĂŁe. Mesmo que eu goste da minha vagina do jeito que Ă© e eu nĂŁo quero ver uma placenta pessoalmente, nunca, se eu puder evitar. Eu farei isso, como um herĂłi. Como uma mulher normal. Como minha mĂŁe.
O nascimento Ă© uma ponte, penso eu, mais tarde naquela noite, assistindo a um programa de espionagem sangrento na TV em vez de recitar mantras de trabalho calmantes (provavelmente Ă© por isso que meu bebĂȘ jĂĄ Ă© tĂŁo violento). DaĂ para a maternidade. Daqui para o resto da minha vida. E Ă s vezes, estranhamente, por razĂ”es que nĂŁo posso começar a entender, pelo menos por alguns segundos, estou pronta. Eu sou foda. Eu sou tĂŁo corajosa e excitada e estranhamente otimista. Eu nĂŁo posso nem esperar. Eu posso ser o menor capacitado.
Este Ă© um trecho do livro de memĂłrias de Kate, Growing Eden, que estĂĄ disponĂvel como um ebook agora no iTunes, Amazon, Kobo, Barnes e Noble e em breve no Google Play. Kate tambĂ©m bloga no Eat The Damn Cake.