Eu tive que dar à luz a minha criança morta e era agridoce
No momento em que descobri que estava grĂĄvida de gĂȘmeos e conseguia me concentrar na imensa mudança de vida a que estava disposta a dizer sim, comecei a imaginar meu processo de parto e parto. Eu sentava no meu sofĂĄ enorme, uma mĂŁo no meu estĂŽmago com os olhos fechados, e me imagino empurrando. Eu vi meu parceiro ao meu lado, segurando minha mĂŁo, beijando minha testa, e me dizendo que eu poderia fazer isso, que eu estava quase lĂĄ, que eu tinha que dar mais um empurrĂŁo. Vi enfermeiras e mĂ©dicos e depois vi nossos dois bebĂȘs, dois recĂ©m-nascidos saudĂĄveis, adorĂĄveis ââe vivos. Mas meu trabalho e parto nĂŁo pareceriam nada disso porque Ă s 19 semanas, um dos meus bebĂȘs morreu.
Os mĂ©dicos nĂŁo podiam me dizer por que um dos meus filhos gĂȘmeos morreu no Ăștero, mas eles poderiam me dizer que meu trabalho e parto agora seriam muito diferentes da maneira como eu imaginei. Ăs 19 semanas, minha perda aconteceu tarde demais para ser considerada um aborto espontĂąneo, mas cedo demais para ser um natimorto. Eles o chamavam de "gĂȘmeo diminuĂdo". Enquanto um dos meus bebĂȘs continuaria a crescer e florescer, o outro começaria a diminuir e diminuir. Meu corpo absorveria sua placenta e ele encolheria, depois permaneceria no meu ventre atĂ© chegar a hora de eu fazer o parto. Meus mĂ©dicos poderiam me contar a logĂstica de um dos momentos mais monumentais, dolorosos, emocionantes e emocionais da minha vida - o gĂȘmeo que ainda estava vivo nasceria primeiro, entĂŁo eu teria que nascer o gĂȘmeo falecido e a placenta restante - mas eles nĂŁo podiam me preparar para o caminho a seguir, em qualquer capacidade alĂ©m de me dizer exatamente o que seria exigido de mim na sala de parto.
No meio das minhas contraçÔes e empurrÔes, eu não sabia dizer onde o vazio começava e quando o empoderamento terminava. Minhas emoçÔes eram fluidas. Um segundo eu estava exultante com a perspectiva de encontrar meu filho, e no dia seguinte, eu estava com o coração partido pelo tamanho da minha perda.
Ă claro que nĂŁo podiam, porque a Ășnica maneira de vocĂȘ saber como Ă© dar Ă luz um bebĂȘ que estĂĄ vivo e um segundo bebĂȘ que nĂŁo Ă©, Ă© viver esse momento sozinho. VocĂȘ tem que passar por isso em todo o seu horror para entender como Ă©.
Entregando uma criança saudĂĄvel e depois entregando um segundo filho, uma criança que vocĂȘ terĂĄ que enterrar muito antes de vocĂȘ estar pronto para a vida acabar, Ă© como rir de um funeral e chorar histericamente em uma festa de aniversĂĄrio surpresa. Eu me senti culpado por estar feliz quando meu filho nasceu porque eu podia beijar seu rosto e ouvi-lo chorar. Ao mesmo tempo, senti-me culpado por estar triste quando meu filho falecido nasceu. Em um dia que eu deveria estar comemorando, eu estava chorando uma perda tĂŁo intensa que transbordou e saiu da sala. Eu nĂŁo podia escapar da batalha, duas emoçÔes justapostas haviam acontecido em minha mente, meu coração, em cada centĂmetro do meu corpo exausto, e em todos os cantos do nosso quarto de hospital.
Fechei os olhos, tentando imaginar o que ensaiara hå tantos meses - respirando com a dor com o meu parceiro ao meu lado -, mas eu estava perdido, cercado de médicos e enfermeiras e as pessoas que mais me amavam, lamentando o perda de alguém que eu amava de todas as formas.
No meio das minhas contraçÔes e empurrĂ”es, eu nĂŁo sabia dizer onde o vazio começava e quando o empoderamento terminava. Minhas emoçÔes eram fluidas. Um segundo eu estava exultante com a perspectiva de encontrar meu filho, e no dia seguinte, eu estava com o coração partido pelo tamanho da minha perda. Eu nĂŁo poderia calibrar quando uma onda de tristeza me afogaria. Tudo que eu conseguia pensar era: isso estĂĄ errado. Isto nĂŁo Ă© como deveria ser. NĂłs deverĂamos levar dois bebĂȘs para casa. Nenhum. Tudo o que eu pude fazer foi montar a onda impiedosa de cada emoção que eu sentia, sem nunca saber qual acidente de emborcamento viria a seguir. Fechei os olhos, tentando imaginar o que ensaiara hĂĄ tantos meses - respirando com a dor com o meu parceiro ao meu lado -, mas eu estava perdido, cercado de mĂ©dicos e enfermeiras e as pessoas que mais me amavam, lamentando o perda de alguĂ©m que eu amava de todas as formas.
Em um piscar de olhos em uma das muitas, muitas visitas do mĂ©dico que havĂamos planejado ao longo de todas as fases da minha gravidez, o nascimento dos meus bebĂȘs gĂȘmeos foi um sonho que virou um pesadelo. Foi o pior cenĂĄrio embrulhado como um presente que todos queriam celebrar. Recebi parabĂ©ns e flores e balĂ”es e presentes de bebĂȘ e fiquei tĂŁo, muito grato. Mas por dentro eu senti vontade de gritar e nĂŁo queria nada alĂ©m de jogĂĄ-los no lixo. Eu estava segurando meu bebĂȘ, muito agradecido por ele estar vivo e em nossa casa, mas em toda a minha alegria eu tambĂ©m sabia o que era nĂŁo levar um bebĂȘ para casa do hospital.
HĂĄ dias em que ainda Ă© difĂcil envolver minha mente em torno da enorme mudança de vida que eu disse sim a mais de dois anos atrĂĄs. Eu vejo meu filho correndo pela nossa sala de estar, rindo, brincando e dançando e mesmo que meu coração pareça que vai explodir de alegria completa, ele tambĂ©m arde com a consciĂȘncia aguda de que hĂĄ um bebĂȘ desaparecido.
E nesses momentos eu me sento no meu sofĂĄ enorme, uma mĂŁo no meu estĂŽmago com os olhos fechados, e lembro-me do nascimento que eu suportei. NĂŁo era nada que eu pudesse ter imaginado ou me preparado, mas Ă© a Ășnica experiĂȘncia que tenho. Faz parte da minha histĂłria, como mĂŁe e como mulher, e atĂ© as partes dolorosas sĂŁo partes que me orgulho de ter sobrevivido.
Porque Ă© isso que entregar um bebĂȘ que estĂĄ vivo e um bebĂȘ que nĂŁo Ă©, honestamente. Ele estĂĄ abraçando cada grama de alegria e dor, intencionalmente e independentemente de quĂŁo profundo os braços do passado cortam enquanto eles se encantam. Ă um delicado entrelaçamento de todos os altos e angustiantes insuperĂĄveis ââque vocĂȘ jĂĄ experimentou. Ă o conhecimento de que o seu primeiro olĂĄ tambĂ©m foi seu Ășltimo adeus. EstĂĄ percebendo que vocĂȘ conseguiu alguma aparĂȘncia de um final feliz, mesmo que esse final nĂŁo seja o que vocĂȘ imaginou ou o que vocĂȘ sempre quis. EstĂĄ percebendo que todo dia bom serĂĄ encoberto pela realidade de que tambĂ©m Ă© um dia ruim, um dia que seu bebĂȘ nĂŁo conseguiu ver, mas tambĂ©m um dia que seu filho sobrevivente fez. Ă uma onda incessante, colidindo, constante.
Cerca de dois anos atrĂĄs, dei Ă luz dois filhos: um que aprende e cresce, brinca e sorri, e que se move tĂŁo rĂĄpido e tĂŁo livremente que nĂŁo sei aonde vai o tempo; e outro, alguĂ©m cuja vida, amor e memĂłria estarĂŁo para sempre congelados no tempo, cuja vida sempre serĂĄ pintada ao nosso redor, nĂŁo conosco. Eu sei que nĂŁo Ă© a histĂłria de todos, mas Ă© minha. Nele encontrei tristeza e força e luto e alegria e toda emoção que envolve as fibras da humanidade. Nele, descobri que a resiliĂȘncia continua.